Um pouco de história

caleidoscópios dos diálogos sobre conflitos

uma leitura ampla

Cultura de diálogo
Perspectiva ético-política
Princípios de ação
Princípios-tarefas
Desindividualizar o olhar
Sujeitos metamorfose
Perspectiva restaurativa
Desjudicializar a vida
Fazer coletivo na escola
As regras na escola
Conflito e violência

alguns dilemas

conceitos-ferramentas

práticas

Conflitos na escola

| criando espaços de diálogo
27303-[Convertido]

Quando entro no mar, paro e observo.
Sua amplitude, sua cor, suas ondas…
As espumas que cintilam ao sol, ou sob o céu nublado…

Com o dedo do pé, sinto a temperatura.
Rodeio, sem coragem de entrar
Corro, me jogo e mergulho

Sinto as ondas no meu corpo, atravesso-as pelo meio, nado por baixo, flutuo com elas
Deixo-me levar…
Resisto ao seu ímpeto.

Quando as ondas se encontram…
Se interpenetram, se confrontam, se complementam
Se anulam…
Se fortalecem.

Cada onda é uma em particular… e é também mar

Encontros, Ana Lucia Catão.

Aprender a conviver é uma arte.




Somos todos singulares nos nossos modos de ser e estar no mundo e nossos encontros com o outro nem sempre são felizes.



Muitos buscamos a paz.


Mas que paz é essa?
Sem conflito?
Estamos dispostos a viver na diversidade?
Temos coragem de desafiar nossos modos de pensar e fazer?



Trabalhar com conflito na escola requer muita reflexão, muito diálogo e muita desacomodação.



Esse material apresenta alguns princípios, conceitos-ferramentas, dilemas comuns e práticas que vêm se mostrando potentes para trabalhar os conflitos com os quais os educadores se deparam na escola.



É nesse sentido que são abordadas a Mediação de Conflitos, a Comunicação Não Violenta e as Práticas Restaurativas como três referências para lidar com situações de conflito, promovendo uma cultura de diálogo, apostando na potência da escola como espaço de encontro e comunidade de aprendizagem.

ESCOLA E CONFLITOS

Hoje em dia, quando falamos em Mediação de Conflitos, nos referimos a um modo específico de trabalhar as situações de conflito.
Trata-se de promover o encontro entre as pessoas em conflito e construir um espaço seguro de fala para que elas possam com-versar com sinceridade (sem a necessidade de se defender) sobre o que está por trás de seu desentendimento mútuo, de forma que possam construir juntas modos de convivência respeitosa entre si.
Para isso, a pessoa mediadora do conflito propõe ou constrói junto com os envolvidos combinados de conversa, cuida de seu cumprimento e propõe um fluxo de conversa, que passa pela elaboração da situação, para eventualmente chegar a acordos de convivência.
Nos encontros de mediação, o mediador lança mão de um repertório de perguntas, uma intensa disposição de escuta e segue princípios de ação para construir essa possibilidade do respeito mútuo a partir de um desencontro. Trata-se de transformar um mau encontro numa ocasião de aprendizado sobre si, sobre o outro e sobre modos de estar com os outros, permitindo que dali em diante cada um dos envolvidos passe a olhar de outra maneira o modo como se relaciona com as pessoas e o mundo.
Na escola em especial, a mediação se amplia para o cultivo de uma cultura de diálogo.
No vídeo “Um pouco de história”, eu conto como o campo da Mediação de Conflito vai se construindo e como chega na escola.

A Comunicação Não Violenta se apresenta inicialmente como um método criado pelo assistente social americano Marshall Rosemberg para quebrar ciclos de violência, visando transformar um modo violento de se relacionar num modo mais cooperativo.
Marshall propõe que sejamos capazes de observar e nomear o modo como reagimos e nos sentimos numa situação de conflito e que com base nessa observação, consigamos definir que necessidades nossas não estão sendo atendidas e que nos levam a nos sentir e atuar de um determinado modo.
Nomeadas as necessidades, conseguimos nos expressar a partir delas e eventualmente fazer pedidos para o outro em contato com nossos sentimentos, sem colocar o outro como causa do nosso sofrimento.
A partir do momento em que esse contato se dá a partir das necessidades e não de julgamentos e acusações, abre-se no outro a disponibilidade para a escuta e a possibilidade dele também entrar em contato com seus sentimentos e necessidades e expô-los também de forma não violenta. Possibilitando a troca e o entendimento mútuo.
Marshall Rosemberg, no entanto, atenta para o fato de que mesmo tendo sistematizado didaticamente o método com uma espécie de passo a passo da comunicação não violenta, seguir o esquema não garante uma boa comunicação, pelo contrário engessa-a e impossibilita o encontro com o outro.
Percebendo os efeitos de sua formulação didática, muitas vezes robotizando e passando a ideia de que há um jeito certo de se comunicar, em publicações mais recentes, Marshall faz questão de afirmar que mais do que um método, a Comunicação Não Violenta é uma ética de vida com o outro e é nesse sentido que a trazemos aqui neste material.
O modo operacional de trabalhar a Comunicação Não Violenta, a mera aplicação da técnica, é terreno fértil para reproduzir opressões culturais. Do mesmo modo como acontece com a Mediação de Conflitos ou as Práticas Restaurativas. Por isso a escolha, neste guia, por expor os métodos sempre alicerçados nos princípios e ampliando a reflexão sobre o contexto escolar.

As Práticas Restaurativas utilizam de princípios e métodos da Justiça Restaurativa são no âmbito escolar, se apresentando como uma outra forma de concretizar o ideal da justiça.
Uma justiça que aposta no apoio à vítima e ao ofensor, para que a vítima possa seguir sua vida, superando os efeitos da ofensa e para que o ofensor possa, entrando em contato com os efeitos de sua ação na vítima, rever seu modo de atuar, pensar formas de reparar a vítima e construir para si um outro caminho que não passe pela repetição de ofensas ao outro.
Há um conjunto de métodos chamados de Justiça Restaurativa que promovem o encontro vítima e ofensor no qual ambos se escutam e a partir dessa escuta mútua elaboram um plano de reparação dos danos e/ou restauração do vínculo.
A pergunta orientadora do encontro é “O que fazer daqui para frente para reparar e/ou restaurar o que foi rompido e instaurar um novo modo de conviver?”
Nos encontros, além de apoios da vítima e do ofensor, há participação de pessoas da comunidade que terão o papel de ancorar, dar efetividade ao que se combinou no encontro restaurativo e estreitar laços comunitários.
Não há um centro de poder que distribui justiça (o professor/o gestor), mas sim construção conjunta do sentido de justiça. Sem lançar mão da punição, promove-se corresponsabilização.
As Práticas Restaurativas na escola também abarcam práticas dialogais, que fortalecem o sentido de comunidade e pertencimento a um coletivo e, dessa forma, atuam preventivamente à violência em situações de conflito.
No vídeo “Um pouco de história”, eu conto como as Práticas Restaurativas vão se constituindo na escola.